“É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente,
o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos.
É preciso que a tua ausência trescale sutilmente,
no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo.
Mas é preciso, também, que seja como abrir
uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir como sinto
em mim a presença misteriosa da vida.
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que
nunca te pareces com o teu retrato.
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
Mário Quintana
sábado, 11 de agosto de 2007
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