quinta-feira, 24 de julho de 2008

Floreça


Reconecte-se.

Nem chegou a primavera, mas recomece.

Corte todos os talos.

Todos os excessos.

Deixe a seiva escorrer clara ou pegajosa .

Desapegue!.

Então depois do medo vem o sossego.

De quem soube deixar doer.

Deu valor. Suou.Chorou.

Cresceu pra florescer mais verde que o próprio coração da terra.

A poda é dolorosa.

Mas extremamente necessária.

Depois vem a chuva deliciando o verde com sua energia,

E as folhas então entreabertas sorriem libertando a flor- sua cria.

Deixe que a vida em alguns momentos te pode, mesmo que doa.

Entenderás a magia do encontro,

Entre a seiva que cicatriza e o broto que renasce pipocando vida!

Floresça sempre!



Autor Desconhecido

Música


Divina Música!

Filha da Alma.

Cálice da amargura e do Amor.

Sonho do coração humano, fruto da tristeza.

Flor da alegria, fragrância que desabrocha dos sentimentos.

Linguagem dos amantes, confidenciadora de segredos.

Mãe das lágrimas do amor oculto.

Inspiradora de poetas, de compositores e dos grandes realizadores.

Unidade de pensamento dentro dos fragmentos das palavras.

Criadora do amor que se origina da beleza.

Vinho do coração.

Que exulta num mundo de sonhos.

Encorajadora dos guerreiros, fortalecedora das almas.

Oceano de perdão e mar de ternura.

Ó música.

Em tuas profundezas depositamos nossos corações e almas.

Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos e a ouvir com os corações.



Khalil Gibran

Dois


Debaixo de minha mesa tem sempre um cão faminto

Que me alimenta a tristeza.

Debaixo de minha cama tem sempre um fantasma vivo

Que perturba quem me ama.

Debaixo de minha pele alguém me olha esquisito

Pensando que eu sou ele.

Debaixo de minha escrita há sangue em lugar de tinta

E alguém calado que grita.



Affonso Romano de Sant' Anna

Abraça-me !


E o futuro é aprender a ler aquilo que não está escrito

Pequenos sinais nas nuvens nas estrelas.

Quanta coisa, amor, vimos se perder

E quantas coisas encontramos pra alegrar o coração.

Feche os olhos, me dê a mão (me abraça).

Que a chuva logo passa

E sol volta a brilhar.



Marcelo Bonfá

Kiss


Cerco-me de meiguice suspendo silenciosamente

A autonomia e o feitiço de devanear

Concebo um beijo com sabora hortelã.

Meus lábios entreabertos roçando a brisa

Desliza a estupefacção que se extingue flutuando

No ósculo que sinto efémero

Afectuoso embriaga-se em mim

Uma louca palpitação

Extasiante que me coíbe os sentidos

E me leva ao éden desse

Beijo que nunca trocamos.



Piedade Araújo Sol

Cerme


Cava bem fundo

meu coração,

Se buscas conhecer-me.

A face que tu vês tão risonha diante da vida

Não diz muito,

Não diz tudo

Tu o sabes!

Mas se ainda assim tu não me descobres,

Arranca-me o coração,

Deixa-me o nome,

Devora-o

E vive-me



Maria Jânia Teixeira

sábado, 19 de julho de 2008

Fruto


Há frutos que é preciso

acariciar

com os dedos com

a língua

e só depois

muito depois

se deixam morder





Jorge de Sousa Braga

Na sombra de um raio


Plena mulher, maçã carnal, lua quente,

espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,

que obscura claridade se abre entre tuas colunas?

que antiga noite o homem toca com seus sentidos?

Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,

com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:

amar é um combate de relâmpagos e dois corpos

por um só mel derrotados.

Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,

tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,

e o fogo genital transformado em delícia

corre pelos tênues caminhos do sangue

até precipitar-se como um cravo nocturno,

até ser e não ser senão na sombra de um raio.



Pablo Neruda

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Marinheiro


Vê como o verão

subitamente

se faz água no teu peito,

e a noite se faz barco,

e a minha mão marinheiro.



Eugénio de Andrade

Poesia


Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
=
Miguel Torga

domingo, 13 de julho de 2008

Corpo


Entre os lençóis de seda
há o teu perfume.
Há marcas de batom,
o carmim dos beijos.

Na sede da saudade
matamos o desejo
das carícias suaves.

Os beijos que deixastes
ainda levitam em meu corpo
como plumas ao vento.



Maria de Fatima D. de Moraes

Prazer e Êxtase


O prazer se faz em êxtase:
Quando o meu corpo,
Feito água, descobre
Todos os caminhos do seu.
E deixa-se ficar
Onde você
Mergulha em mim.



Stela Fonseca

sábado, 12 de julho de 2008

Frágil



Em vidro

Apple para se guardar !!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O Amor é o Amor


O amor é o amor - e depois?
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?…

O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito

há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,

e trocamos - somos um? Somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?

Alexandre O’Neill

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Amanhecendo


Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo




Sophia de Mello Breyner Andresen

Silêncio


Escuto na palavras a festa do silêncio.

As aparências apagaram-se.

As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.

Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.

É o vazio ou cimo? É um pomar de espuma.



António Ramos Rosa

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Para hoje


Para a noite de hoje

Flores e frutinhas

Mais que Amigo


Um dia veio uma peste e acabou com

toda vida na face da Terra:

em compensação ficaram as Bibliotecas

E nelas estava meticulosamente escrito

o nome de todas as coisas!





Mário Quintana

domingo, 6 de julho de 2008

Tempo


Eu quero apenas amar-te lentamente

Como se o tempo fosse nosso

Como se todo o tempo fosse pouco

Como se nem sequer houvesse tempo



Joaquim Pessoa

Pecado


Feito de homem, de mulher,
=
de tempo, de ilesos animais.

Também de luxúria e de preguiça,

os pecados prediletos.

Alguma justa ira e uma crença inteira

na sua amante existência.



Inês Lourenço

Se

Se eu pudesse parar a minha vida

e dar eternidade a um só momento,

se eu não tivesse o meu destino preso

ao destino das coisas no espaço.

Se eu pudesse destruir todas as leis

e dentro do Universo que se move parar meu mundo,

havia de escolher esse segundo

em que você estivesse nos meus braços.



J.G.de Araújo Jorge

sábado, 5 de julho de 2008

Teu Gosto


Meu amor é sabor pecado

Quando a mim se entrega arde paixão

Depois do amor deito, abraço

Descanso à sombra de um vulcão



Meu amor é sabor maçã

E eu, tempero certo que amacia e apimenta

E quando arde o desejo

Ah, a gente nem agüenta!



A gente se enrosca sem pudor

Se entrega sem fazer esforço

Se morde e celebra o amor

Até que sobre somente o caroço

Roberto L.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Teu corpo seja brasa

Teu corpo seja brasa

e o meu a casa

que se consome no fogo

Um incêndio basta

pra consumar esse jogo

uma fogueira chega

pra eu brincar de novo


Alice Ruiz

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Fogueira


Por que queimar minha fogueira,

e destruir a companheira?

Por que sangrar o meu amor assim?

Não penses ter a vida inteira

para esconder teu coração

Mais breve que o tempo passa,

vem em galope meu perdão.

Por que temer a minha fêmea,

se a possuis como ninguém?

A cada bem do mal do amor em mim

Não penses ter a vida inteira

Para roubar meu coração

Cada vez é a primeirado teu também serás ladrão

Deixa eu cantaraquela velha história, o amor

Deixa eu penar,

a liberdade está (também) na dor

eu vivo a vida a vida inteira

a descobrir o que é o amor,

breve pulsar do sol a me queimar;

não penso ter a vida inteira

para guiar meu coração;

eu sei que a vida é passageira,

e o amor que tenho não

Quero ofertara minha outra face à dor;

mas deixa eu sonhar

com a tua outra face, amor.



Ângela Ro Ro

De cara lavada



hoje me desfiz dos meus bens
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos

o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos

a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos

coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos



Martha Medeiros