terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fruta doce


Fruto que guardei pra você
E não seria tão doce na boca de outro
Eu só quero a certeza de que o doce irá permanecer em seu paladar
Porque não teria importãncia se não conseguisse deixar algo meu em você
Não quero ser algo que a água do banho leva junto com a espuma
Não quero ser a marca no corpo que o tempo clareia
Quero ser leve, doce e inesquecível
Tenho doce o bastante pra isso
Tenho vontade o bastante pra mais que isso

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Em meu corpo vermelho


Eu consigo mergulhar teu coração dentro do meu corpo vermelho.

Explodindo em sentidos e intuições

Com os lábios cortados pelo vento.

Beijando a minha alma de uma vez só

Como se o mundo fosse me invadir pelo seio.

Desvira, revira, inspira

Bebe da água que me faz cantar.

Assume, renasce, ressurge daquilo que lhe faz desejar.

Me estica no céu com as mãos pelos ares e me ensina dizeres teus.

Teus anseios, porquês e detalhes irracionais.

Nossos motivos, poemas e contos finais.

E briga que grita por não querer matar

Umbigo, pescoço e meu paladar.

Me chama, me clama, me olha outra vez

Mastiga o meu gosto espalhado em teu lambusar.

E não perca, menino, o desejo de me devorar

Pelo riso, meu cílio e com teu polegar.

E decora, e declara, e declama, amor,

O sorriso vestido de amar.
=

Gabriele Fidalgo

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Doa-se um Coração


Doa-se um coração

O espaço é amplo

Macio e quentinho

Possui vários compartimentos

E abriga todos os sentimentos

É um coração livre, desprovido de trancas

Com as portas sempre abertas

Para não sufocar

Para ocupar esse espaço

E mantê-lo pulsando

É preciso

Saber Amar

Compreender

Desejar

Observar

Tocar

E compartilhar as coisas simples da vida

Essa doação é feita por tempo ilimitado

Mas só será seu

Se souber mantê-lo, conservá-lo e amá-lo

Iraima Bagni

domingo, 19 de outubro de 2008

Receita


Para manter sua maçã sempre doce

Tenha sempre uma pitada de poesia

Uma porção generosa de compreensão

Abuse do carinho

E não esqueça da dose diária de sedução e conquista

Suas curvas

A tudo alheio, saboreio
Absorto
Sorvo este cacho de uvas tão maduras
Este cacho de curvas que é o teu corpo


David Mourão-Ferreira

Bebendo-te


Arranquei-te da terra pelas raízes ébrias de tuas mãos

E bebi-te todo, oh fruto perfeito e delicioso!



Salvador Novo

Amor



Tirei os bagos,
Um a um, de dentro da romã.
Juntei-os no prato do poema,
E construí com eles a tua imagem
Para que a pudesse morder como se ama,
Até ouvir o teu riso perguntar-me:
"Que fazes ?"
Enquanto libertavas os seios de dentro da camisa,
Para que a luz os mordesse
Como se morde a romã.



Nuno Júdice

domingo, 5 de outubro de 2008

Sua


Se vestindo

Ou despindo-me

E para ser sua Apple

Sempre

Quando...

Quando dou

Não tomo

Multiplico

Somo

Amo

Mas não domo

Quando eu dou

Eu como



Sílvia Sangirardi