Era uma vez uma menina branca chamada Clara,
que vivia numa terra de crianças brancas e dizia:
É bom ser branca
porque é branco o açúcar, tão doce,
porque é branco o leite, tão saboroso,
porque é branca a neve, tão linda.
Mas certo dia a menina partiu numa grande viagem e
chegou a uma terra onde todas as crianças eram amarelas.
Arranjou uma amiga chamada Flor de Lótus, que,
como todos as crianças amarelas, dizia:
É bom ser amarela porque é amarelo o Sol
e amarelo o girassol, mais a areia da praia.
A menina branca meteu-se num barco para continuar a sua viagem
e parou numa terra onde todas as crianças são pretas.
Fez-se amiga de um pequena caçadora chamado Lumumba que,
como as outras crianças pretas, dizia:
É bom ser preta como a noite
preto como as azeitonas
preto como as estradas que nos levam para toda a parte.
A menina branca entrou depois num avião,
=
que só parou numa terra
onde todos as crianças são vermelhas.
Escolheu para brincar aos índios
=
uma menina chamada Pena de Águia.
E a menina vermelha dizia:
É bom ser vermelha da cor das fogueiras
da cor das cerejas e da cor do sangue bem encarnado.
A menina branca foi correndo mundo
até uma terra onde todos as crianças são castanhas.
Aí fazia corridas de camelo
=
com uma menina chamado Alin, que dizia:
É bom ser castanha
como a terra do chão, os troncos das árvores
é tão bom ser castanha como um chocolate.
Quando a menina voltou à sua terra de crianças brancas, dizia:
É bom ser branca como o açúcar
amarelo como o Sol
preto como as estradas
vermelho como as fogueiras
castanho da cor do chocolate.
Enquanto, na escola,
=
as crianças brancas pintavam em folhas brancas
desenhos de crianças brancas,
ela fazia grandes rodas com crianças sorridentes de todas as cores.
Luísa Ducla Soares
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