sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Cá dentro
Debaixo de minha mesa tem sempre um cão faminto
Que me alimenta a tristeza.
Debaixo de minha cama tem sempre um fantasma vivo
Que perturba quem me ama.
Debaixo de minha pele alguém me olha esquisito
Pensando que eu sou ele.
Debaixo de minha escrita há sangue em lugar de tinta
E alguém calado que grita.
Affonso Romano de Sant' Anna
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Mulher
Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
Espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
Que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
Que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
Com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
Amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
Por um só mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
Tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
E o fogo genital transformado em delícia
Corre pelos tênues caminhos do sangue
Até precipitar-se como um cravo nocturno,
Até ser e não ser senão na sombra de um raio.
Pablo Neruda
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