quarta-feira, 12 de setembro de 2007


Definitivo, como tudo o que é simples.

Nossa dor não advém das coisas vividas,

mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,

apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana,

que gerou em nós um sentimento intenso

e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado

e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas,

por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido

ao lado do nosso amor e não conhecemos,

por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto

e não tivemos, por todos os shows e livros

e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado,

e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco,

mas por todas as horas livres que deixamos
=
de ter para ir ao cinema,

para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,

mas por todos os momentos em que poderíamos

estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias

se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,

mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,

mas porque o futuro está sendo confiscado de nós,

impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,

todas aquelas com as quais sonhamos e
=
nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício

da vida está no amor que não damos,

nas forças que não usamos,

na prudência egoísta que nada arrisca,

e que, esquivando-se do sofrimento,

perdemos também a felicidade.



A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.”


Carlos Drummond de Andrade

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