sexta-feira, 30 de novembro de 2007
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Amante
Amante é "aquilo que nos apaixona".
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É o que toma conta do nosso pensamento
É o que toma conta do nosso pensamento
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antes de pegarmos no sono e é também aquilo que,
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às vezes, nos impede de dormir.
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O nosso Amante é aquilo que nos mantém distraídos em relação
O nosso Amante é aquilo que nos mantém distraídos em relação
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ao que acontece à nossa volta.
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É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.
É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.
Às vezes encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras,
em alguém que não é nosso parceiro mas que nos desperta
as maiores paixões e sensações indescritíveis.
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Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica
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ou na literatura, na música, na política, no esporte,
no trabalho quando é vocacional,
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na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa,
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no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto.
Enfim, é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida
e nos afasta do triste destino de "durar". E o que é "durar"?
Durar é ter medo de viver.
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É o vigiar a forma como os outros vivem,
é o se deixar dominar pela pressão, perambular
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por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos,
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afastar-se do que é gratificante,
observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra,
é a preocupação com o calor ou com o frio,
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com a umidade, com o sol ou com a chuva.
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Durar é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje,
Durar é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje,
fingindo contentar-se com a incerta e frágil sugestão de
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que talvez possamos fazer amanhã.
Por favor, não se empenhe em "durar", procure um amante,
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seja também um amante e um protagonista da vida.
Pense que o trágico não é morrer; afinal a morte tem boa memória
e nunca se esqueceu de ninguém.
O trágico é não se animar a viver; enquanto isso, e
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sem mais delongas, procure um amante.
A psicologia,
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após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:
"Para se estar satisfeito, ativo e sentir-se jovem e feliz, é preciso namorar a vida."
Jorge Bucay
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Era uma vez
Um tanque maravilhoso.
Era uma lagoa de água cristalina e pura onde
nadavam peixes de todas as cores
e onde todas as tonalidades de verde se
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reflectiam permanentemente.
Aproximaram-se daquele tanque mágico e transparente
a tristeza e a fúria para se banharem em mútua companhia.
As duas tiraram os vestidos, e, nuas, entraram no tanque.
A fúria, que tinha pressa (como sempre acontece com a fúria),
pressionada pela urgênci, sem saber porquê,
Aproximaram-se daquele tanque mágico e transparente
a tristeza e a fúria para se banharem em mútua companhia.
As duas tiraram os vestidos, e, nuas, entraram no tanque.
A fúria, que tinha pressa (como sempre acontece com a fúria),
pressionada pela urgênci, sem saber porquê,
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banhou-se rapidamente e, ainda mais rapidamente, saiu da água.
Mas a fúria é cega ou, pelo menos,
Mas a fúria é cega ou, pelo menos,
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não distingue claramente a realidade.
Por isso, nua e apressada, pôs, ao sair,
Por isso, nua e apressada, pôs, ao sair,
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o primeiro vestido que encontrou.
E aconteceu que aquele vestido não era o dela, mas o da tristeza.
E assim, vestida de tristeza, a fúria foi-se embora.
Muito indolente, muito serena,
disposta como sempre a ficar no lugar onde estava,
a tristeza terminou o seu banho e, sem pressa, ou, melhor dito,
sem consciência da passagem do tempo,
com preguiça e lentamente, saiu do tanque.
Na margem, deu-se conta de que a sua roupa já lá não estava.
Como todos sabemos,
E aconteceu que aquele vestido não era o dela, mas o da tristeza.
E assim, vestida de tristeza, a fúria foi-se embora.
Muito indolente, muito serena,
disposta como sempre a ficar no lugar onde estava,
a tristeza terminou o seu banho e, sem pressa, ou, melhor dito,
sem consciência da passagem do tempo,
com preguiça e lentamente, saiu do tanque.
Na margem, deu-se conta de que a sua roupa já lá não estava.
Como todos sabemos,
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se há uma coisa que não agrada à tristeza é ficar nua.
Por isso vestiu a única roupa que havia junto do tanque:
o vestido da fúria.
Contam que, desde então,
muitas vezes nos encontramos com a fúria,
Por isso vestiu a única roupa que havia junto do tanque:
o vestido da fúria.
Contam que, desde então,
muitas vezes nos encontramos com a fúria,
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cega, cruel, terrível e agastada.
Mas se nos dermos tempo para olhar melhor, apercebemo-nos
de que esta fúria que estamos a ver não passa de um disfarce e,
por detrás do disfarce da fúria, na realidade,
Mas se nos dermos tempo para olhar melhor, apercebemo-nos
de que esta fúria que estamos a ver não passa de um disfarce e,
por detrás do disfarce da fúria, na realidade,
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está escondida a tristeza.
Jorge Bucay
domingo, 18 de novembro de 2007
sábado, 17 de novembro de 2007
O meu país
sabe as amoras bravas no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Sofia de Mello Breyner / Eugénio de Andrade ??
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Minha poesia, malandra
Quer teu olhar a todo custo
Se enfeita, ninfeta
Passando a língua nos lábios
Minha poesia, sedenta,
Sapateia sobre os desejos
E escorrega macia
Em ouvidos amantes
-Errante! praguejam
- Repleta! replico
Minha poesia apenas ama
E clama
Por desordem em pensamentos
Noites e lençóis.
Camila Lordelo
domingo, 11 de novembro de 2007
(...)
E de novo acredito que nada do que é importante
Se perde verdadeiramente
Apenas nos iludimos
Julgando ser donos das coisas
Dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os que amei
Todos os amigos que se afastaram
Todos os dias felizes que se apagaram
Não perdi nada
Apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre
Miguel Sousa Tavares
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Paraíso perdido que eu achei!
Tua essência que é tudo em meu todo que é nada.
Quanto mais juntos, tanto mais sozinhos.
Alternativamente a noite e o dia.
O que de olhos abertos eu não via.
Sem nunca ter começo, teve fim.
A mentira da vida e a verdade do sonho.
Mas nem sequer ouviste o que eu não disse.
E partiste. E eu fiquei no dia sem paisagem.
Nos meus fecundos arrependimentos.
Cai o pano final das pálpebras fechadas.
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Guilherme de Almeida
domingo, 4 de novembro de 2007
sábado, 3 de novembro de 2007
Pétala
Não, não foi um vendaval.
Na verdade, só um vento, um vento um pouco mais forte.
E, mesmo assim, sua flor, aquela flor vermelha que você me deu,
perdeu uma pétala.
Justamente a que carregava o beijo que você mandou.
Agora, não sei mais o que fazer com a sua flor.
Sem seu beijo, não será mais aquela flor que você me deu.
Será apenas uma flor vermelha sem uma pétala.
E uma flor, quando deixa cair uma pétala,
mostra que esse é o destino de todas as outras:
uma a uma, todas serão levadas pelo vento.
Prefiro, então, que leve de volta a sua flor,
enquanto o vento levou apenas uma pétala
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com seu beijo grudado nela.
Porque não vou suportar ver sua flor se desmanchando,
Porque não vou suportar ver sua flor se desmanchando,
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pétala por pétala.
Tenho medo de que seu amor seja como a sua flor.
E se desmanche, e vá embora, levado por um vento qualquer
Tenho medo de que seu amor seja como a sua flor.
E se desmanche, e vá embora, levado por um vento qualquer
André Gonçalves
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